O ENCANTO NOSSO DE CADA DIA!
Ainda bem que o tempo passa! Já
imaginou o desespero que tomaria conta de nós se tivéssemos que suportar
uma segunda feira eterna?
A beleza de cada dia só existe porque não é duradoura. Tudo o que é belo não pode
ser aprisionado, porque aprisionar a beleza é uma forma de desintegrar a
sua essência. Dizem que havia uma menina que se maravilhava todas as
manhãs com a presença de um pássaro encantado. Ele pousava em sua janela
e a presenteava com um canto que não durava mais que cinco minutos. A
beleza era tão intensa que o canto a alimentava pelo resto do dia. Certa
vez, ela resolveu armar uma armadilha para o pássaro encantado. Quando
ele chegou, ela o capturou e o deixou preso na gaiola para que pudesse
ouvir por mais tempo o seu canto.
O grande problema é que a gaiola o entristeceu, e triste, deixou de cantar.
Foi então que a menina descobriu que, o canto do pássaro só existia,
porque ele era livre. O encanto estava justamente no fato de não o
possuir. Livre, ele conseguia derramar na janela do quarto, a parcela de
encanto que seria necessário, para que a menina pudesse suportar a
vida. O encanto alivia a existência...Aprisionado, ela o possuia, mas
não recebia dele o que ela considerava ser a sua maior riqueza: o canto!
Fico pensando que nem sempre sabemos recolher só encanto... Por vezes,
insistimos em capturar o encantador, e então o matamos de tristeza.
Amar talvez seja isso: Ficar ao lado, mas sem possuir. Viver também.
Precisamos descobrir, que há um encanto nosso de cada dia que só poderá
ser descoberto, à medida em que nos empenharmos em não reter a vida.
Viver é exercício de desprendimento. É aventura de deixar que o tempo
leve o que é dele, e que fique só o necessário para continuarmos as
novas descobertas.
Há uma beleza escondida nas passagens... Vida
antiga que se desdobra em novidades. Coisas velhas que se revestem de
frescor. Basta que retiremos os obstáculos da passagem. Deixar a vida
seguir. Não há tristeza que mereça ser eterna. Nem felicidade. Talvez
seja por isso que o verbo dividir nos ajude tanto no momento em que
precisamos entender o sentimento da tristeza e da alegria. Eles só são
suportáveis à medida em que os dividimos...
E enquanto dividimos, eles passam, assim como tudo precisa passar.
Não se prenda ao acontecimento que agora parece ser definitivo. O tempo
está passando... Uma redenção está sendo nutrida nessa hora...
Abra
os olhos. Há encantos escondidos por toda parte. Presta atenção. São
miúdos, mas constantes. Olhe para a janela de sua vida e perceba o
pássaro encantado na sua história. Escute o que ele canta, mas não caia
na tentação de querê-lo o tempo todo só pra você. Ele só é encantado
porque você não o possui.
E nisto consiste a beleza desse instante: o
tempo está passando, mas o encanto que você pode recolher será o
suficiente para esperar até amanhã, quando o passaro encantado, quando
você menos imaginar, voltar a pousar na sua janela.
Padre Fábio de Melo
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